Nova Cartografia Social Da Amazônia

Jornadas Etnográficas do PNCSA


Manaus, 16 de outubro de 2015.

 Hoje, dando sequência aos esforços analíticos de se considerar a antropologia como uma sociologia comparada e aos atos de intercâmbio de pesquisa científica, privilegiando os trabalhos de descrição etnográfica com oficinas de mapas e encontros de experiências cartográficas em diversos países (Argentina, Venezuela, Colômbia, Equador, Nicarágua, Honduras, Cuba, México e Quênia) ocorreram 04 apresentações no Laboratório de Cartografia Social, na UEA, sendo 03 de pesquisadores e 01 de representante do povo Endorois, todos do Quênia e participantes do Projeto “Social Cartography and technical training of researchers and social movements in Kenya and Brazil”, apoiado pela Fundação Ford.

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i)A primeira exposição foi feita por CHEPSOI PAUL KIPYEGEN que representa o povo Endorois em cortes e instituições internacionais, inclusive em Genebra, Suiça, nas discussões sobre unidade de conservação instituída pelo governo do Quênia no Lago Bogoria, território tradicional do povo Endorois. PAUL narrou os efeitos da ação judicial que seu povo moveu contra o Governo do Quênia, que queria deslocar forçadamente os Endorois sob o pretexto de preservar a fauna e a flora da região. PAUL explicou que a fauna e a cobertura florística atuais só existem nestas condições de serem preservadas porque o povo Endorois assim as tem mantido por séculos a fio. Narrou pausadamente, mostrando através de fotos: a) o mapa com relevos, à molde de uma maquete, que seu povo mantém no centro da aldeia principal, b) os efeitos da visita da equipe do PNCSA e da liderança quilombola, Ednaldo Padilha, “Cabeça”, ao seu território, em agosto do corrente ano, e as possibilidades de contribuição do PNCSA à sua luta pelos direitos territoriais e étnicos, num momento em que os Endorois venceram, na corte interafricana, a luta judicial contra as pretensões governamentais de invadir seu território. PAUL acentuou as perspectivas preocupantes do pastorialismo, praticado centenariamente por inúmeros povos (Turkana, Dinka, Lou, Borona, Massai) e atualmente caracterizado por graves conflitos nesta vasta região da África Oriental, cada vez mais invadida por mineradoras, petroleiras e grandes projetos governamentais de infraestrutura e rígidas políticas ambientais.

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ii) A segunda exposição foi realizada por KODIENY HILLARY OGINA KENYAN , militante do Kenya Land Alliance (KLA), que recuperou a importância das reuniões de trabalho cartográfico, realizadas em agosto de 2015, em Nakuro, Nairobi e Isiolo, com a equipe de pesquisadores do PNCSA, na consolidação de práticas de cartografia social e o fortalecimento da ação do KLA, que passará a dotar seus militantes de novos critérios de competência e ação. HILLARY sublinhou o papel de centralidade do KLA ao buscar a convergência de ONGs e movimentos sociais na luta pela terra no Quênia, sobretudo mediante as ameaças às terras comunitárias, num momento em que o Estado tem dificuldades de implementar os dispositivos constitucionais e o Land Act de 2010. Pela Constituição do Quênia há três categorias de terra: terras privadas, terras comunitárias e terras públicas.

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iii) A terceira exposição foi de DESMOND TUTU OWUOTH, que relatou sua experiência, enquanto um mestrando em direito da Universidade de Nairobi e complementou com uma fala sobre os conflitos sociais hoje no Quênia, sobretudo a perspectiva das terras comunitárias face ao planejamento oficial, baseado na criação de um corredor com grandes obras de infraestrutura (porto, ferrovia), inclusive uma grande UHE, no Lago , na fronteira com a Etiópia, e o incentivo à ação de prospecção petrolífera numa ilha, no Lago Vitória, em área fronteiriça disputada com Uganda.

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iv) A quarta e última exposição foi realizada por OGEMBO OLIVER ONYANGO, que narrou sua experiência de engenheiro de sistemas no Laboratório de Geografia da Universidade de Nairobi e o potencial de contribuições do PNCSA na instalação de minilaboratórios no Quênia para a consecução de trabalhos de cartografia social. Sublinhou o início dos trabalhos de intercambio com o PNCSA, em agosto de 2015, no próprio laboratório da Universidade de Nairobi, objetivando um upgrade. Chamou a atenção para o potencial das práticas de cartografia social no Quênia neste momento em que há uma expansão dos agronegócios.

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