Nova Cartografia Social Da Amazônia

Problematizando “identidades”: como pensam os Museus?


Folder da exposição

 

Patrícia Portela

 

Integrantes do “Projeto Centro de Ciências e Saberes” _ realizado através de um convenio entre o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), o Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia da UEMA e de Centro de Estudos Superiores do Trópico Úmido da UEA _ visitaram, nesse mês de março, a exposição organizada em comemoração aos 80 anos da USP: “Olhares cruzados nos Museus da USP – Identidades diversas”, realizada no Museu de Arte Contemporânea (MAC), da USP, Ibirapuera.

Segundo seus organizadores, para esta exposição, os quatro museus da USP – Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), Museu de Arte Contemporânea (MAC); Museu Paulista; e o Museu de Zoologia – dialogam, conduzidos sob uma ideia de Identidade/Diversidade, e propõem uma reflexão sobre estas questões através de diferentes abordagens culturais e científicas.

Ao buscarem cruzar diferentes olhares em torno de identidades múltiplas, a curadoria desta Exposição selecionou 227 itens entre obras, objetos e espécimes dos acervos de cada um destes museus.

A escultura “Índio Pescador” de Francisco Leopoldo e Silva de 1928 é apresentada como peça emblemática para tratar da temática das designadas “identidades múltiplas”. É exposta, no entanto, ao lado de “coleções biológicas” que enfatizam espécies de vertebrados e invertebrados que compõe as coleções de História Natural. Ou ao lado daqueles que são considerados personagens históricos brasileiros apresentados através de um jogo de cartas, disposto em uma vitrine, que retrata os chamados notáveis e figuras ilustres, integrantes das galerias de letrados que caracterizam uma certa intelligentsia.

Estas figuras ilustres parecem estar indissociáveis, lado a lado dispostas, da nobreza colonial ou daqueles mandatários que ocupam cargos e postos de caráter civil ou militar, retratados em óleo sobre tela, a exemplo do Coronel Francisco Ignácio de Souza Queiroz ou da Marquesa de Valença, Ilídia Mafalda de Sousa Queirós, dama da Imperatriz Leopoldina, casada com Estêvão de Resende, Senador do Império, Ministro e Conselheiro de Estado.

A Exposição exalta ainda elementos constituintes dos hábitos e costumes dessa nobreza ao apresentar objetos e utensílios que compõem serviços de toalete, como uma bacia, gomil, saboneteira, porta-escova e pote em porcelana do século XIX; ou ao conferir destaque a embalagens de “Talco Rosso Flores do Paraíso”, da fábrica brasileira da empresa norte americana de Sydney Ross.

Peças do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) estão presentes nesse desafio de definir identidades como o sarcófago em madeira “Tampa de Esquife”, Tebas Ocidental Egito cerca de IX a.C. – VII a.C.

Em uma atmosfera gélida, num fundo branco neve, os curadores da exposição apresentam as seguintes questões: “Como definir identidades? Pelo que somos ou pela diferença em relação ao que não somos?”

A disposição das peças faz lembrar, contudo, a figura do colecionador de borboletas criticado por Edmund Leach. O modelo criticado por Leach tende, como sabemos, a fixar tipologias culturais. Para além da classificação de borboletas, ou de culturas, essa exposição propõe comparações por contraste ou por similitude não somente de culturas, mas propõe a inusitada, para não dizer estranha, comparação entre representações da figura humana, espécies animais e objetos representativos da cultura material seja uma moeda, seja uma peça de cerâmica, uma escultura, pintura ou um mesmo o crânio de um chimpanzé.

O estranhamento que a Exposição suscita pode estar referido à sua ordem de exposição, ou a lógica que lhe dá sentido, pois nos fazem lembrar procedimentos de instituições imperiais que ao reunirem objetos de outras culturas ou outros habitat, como eram pensados os recursos naturais, lhes impunham um sentido determinado de ordem.

No passado a escultura do “Índio Pescador” bem poderia ser apresentada como símbolo de uma cultura tida como exótica, mas nos dias atuais articulada a imagens de coleções de insetos, animais embalsamados, utensílios domésticos, figuras de intelectuais consagrados ou de uma fidalguia já extinta nos faz não mais sorrir do burlesco que tais formas de classificações suscitam, mas nos levam a pensar sobre o grotesco de suas implicações porquanto em franco contraste com experiências contemporâneas a partir das quais os instrumentos de produção das representações coletivas são detidos por aqueles a quem tais representações se destinam.

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Exposição organizada em comemoração aos 80 anos da USP: “Olhares cruzados nos Museus da USP – Identidades diversas”

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Exposição organizada em comemoração aos 80 anos da USP: “Olhares cruzados nos Museus da USP – Identidades diversas”

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Exposição organizada em comemoração aos 80 anos da USP: “Olhares cruzados nos Museus da USP – Identidades diversas”

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Exposição organizada em comemoração aos 80 anos da USP: “Olhares cruzados nos Museus da USP – Identidades diversas”

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Exposição organizada em comemoração aos 80 anos da USP: “Olhares cruzados nos Museus da USP – Identidades diversas”

 

 

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