Nova Cartografia Social Da Amazônia

Professor José Sergio Leite Lopes (UFRJ) dicta Aula Inaugural no PPGCSPPA da UEMA


 

As apresentações da cantora Lilian Lima e a Banda Akomabu,  os versos de Cabeça, Ednaldo Padilha e os  cantos da quebradeira Nice Machado Aires, acompanhada do senhor  Fabrício Maranhão,  produziram discursos  de sentidos que  o professor José Sergio Leite Lopes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,  tomou como referência no momento inicial de sua intervenção durante a Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazonia, realizada no dia 07 de outubro de 2014  no Auditório do Centro de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA.

 

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De direita para esquerda, cantora Lilian Lima, membros da Banda Afro Akomabu, senhor Fabrício Maranhão, senhora Nice Machado Aires e Cabeça Edinaldo Padilha.

Observou-se que tanto o público como o professor experimentaram, emocionados, a alegria e o calor humano do ato de abertura, contudo, deviam fazer a passagem para a Conferência.  Com grande sensibilidade,  o professor Leite Lopes captou tal estado de espirito e comentou com eloquência sobre essa transmissão mais lúdica que havia sido compartilhada por todos e podia destoar de uma mesa acadêmica,  de caráter mais  formal. Todavia a questão é mais profunda e o antropólogo comentou que  face a certo desencatamento do mundo é preciso reencantá-lo de outra forma e é essa a compreensão  mais lúcida. Assim, agradeceu as trocas, o convite e os gestos.

 

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Mesa da Aula Inaugural com os professores José Sergio Leite Lopes, Alfredo Wagner Berno de Almeida e Rosa Acevedo Marin

“Memória e Transformação Social”   foi o tema proposto para a Conferência, mas  a partir  dessa imersão e  interação com o público, o antropólogo adotou uma posição de reflexividade  sobre suas pesquisas.  Explicou que elas têm estado centradas nos movimentos sociais na esfera pública  e narrou, cuidadosamente,  as experiências sobre o objeto – trabalhadores e movimentos sociais  –  até  adentrar nos novos movimentos sociais que incorporam o termo tradicional – como o das quebradeiras de coco babaçu.

Esse preâmbulo abriu uma longa e fluida narrativa sobre a Memória dos Trabalhadores  vistos como  “trabalhadores,   futuro do Brasil”  os quais eram arregimentados para as fábricas.   Hoje,   trabalhadores são vistos como tradicionais, em desaparecimento.   Essa primeira visão corresponde a uma tradição da Antropologia  em  estudar  a classe operária:  ora futuro, ora passado.  Os seus estudos realizados na zona canavieira do Nordeste  se voltaram para os trabalhadores de usinas de cana-de- açúcar.  O outro universo desses trabalhadores eram os canavieiros, bem mais numerosos, Nesse período outro grupo de antropólogos produziu pesquisas importantes sobre essa segunda categoria.

A dissertação do professor Leite Lopes, com o título  “O vapor do Diabo”  foi publicada em 1976 pela Editora Paz e Terra no Rio de Janeiro; ela teve uma segunda edição  em 1978  e foi recentemente traduzida para o espanhol  e editada na Argentina.  Já para o doutorado  realizou estudos sobre trabalhadores no setor téxtil.  Nessas pesquisas reflete  as passagens  do engenho à usina;  os deslocamentos do Nordeste para a área canavieira de São Paulo.  O pesquisador  busca compreender os paradoxos do mundo do trabalho:   os trabalhadores assalariados são portadores de uma tradição, todavia o futuro da fábrica não foi um futuro para os trabalhadores.  Outro paradoxo: a tradição  propulsou o associativismo.  A nova  reflexão  instigante foi sintetizada  na questão:  “a tradição é utopia”.

Os autores  de referência de suas pesquisas entraram em dialogo para retomar  alguns debates que cobram grande atualidade como a arte e cultura de resistência desses trabalhadores, com base nas obras de James Scott, Edward Thompson,  Bourdieu,  Hobsbawm.    Em condições  e contextos novos o professor  Leite Lopes  entrou no debate  sobre o surgimento da reivindicação ambiental e os conflitos sociais como um campo novo de suas pesquisas.

Finalizando,   a Aula Inaugural o reconhecido antropólogo brasileiro destacou que a “memória contribui para os trabalhadores controlar sua própria história  e responder às questões que lhe são desfavoráveis”.

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