Nova Cartografia Social Da Amazônia

Projeto Nova Cartografia Social realiza Jornada Cuba-Brasil de Cartografia Social em La Ceiba, Balcón Arimao, La Habana, e no Instituto Cubano de Investigación Cultural Juan Marinello, em Cuba


Participantes no Seminário Internacional “Cartografia Social y Mirada de las Comunidades”, no Instituto Juan Marinello, 15 de setembro de 2017.

A Jornada Brasil-Cuba de Cartografia Social em Havana, Cuba, realizada de 14 a 16 de setembro de 2017, concretiza uma etapa de cooperação entre o Projeto Nova Cartografia Social – Brasil, o Instituto Cubano de Investigación Cultural Juan Marinello – Cuba, com resultados profícuos. Em abril de 2015, por iniciativa dos antropólogos Daniel Brasil Rodrigues e Bárbara Oliveira Souza, já inseridos em atividades de pesquisa articuladas com o Instituto Juan Marinello, realizou-se o Seminário Internacional “Identidades y Movilizaciones, colectivas: miradas desde contextos americanos”, que reuniu pesquisadores e pesquisadoras de universidades e instituições de pesquisa do Brasil, Canadá e Cuba e várias organizações comunitárias e de movimentos sociais do país caribenho. A programação do Seminário Internacional envolveu, também, atividade no bairro La Marina, em Matanzas, com amplo debate da comunidade local junto ao grupo de pesquisadores, lançamento de livro, visitas e entrevistas, atos culturais (festival gastronômico e apresentação musical de Rumba). Nesse contexto, se materializa o interesse da comunidade em dar continuidade aos trabalhos de mapeamento social, no âmbito do Projeto da Nova Cartografia Social em Cuba.

No segundo semestre de 2015 desenvolveram-se as oficinas de mapeamento social em La Marina (Matanzas) e em La Ceiba com atividades subsequentes em 2016, até concluir no final do ano a edição do Boletim 2: La Marina: Barrio, identidade, religión y tradición, e o Boletim 3: Iroko, el espiritu de lo sagrado. Identidad de la comunidade de La Ceiba, Balcón Arimao, La Habana, Cuba.

Em El Ranchón, La Ceiba, estiveram reunidos pesquisadores e agentes sociais para o lançamento do Boletim 3 da Nova Cartografia Social em Cuba.

O retorno a Cuba de pesquisadores do Projeto Nova Cartografia para reencontros na comunidade La Ceiba, situada em Balcón Arimao, La Lisa, com membros da Casa Comunitária Paulo Freire, Red Barrial Afrodescendiente, Colectivo Trance, Muñecas Negras e do Instituto Cubano de Investigación Cultural Juan Marinello, está registrado como momentos de emoção indelével pela celebrização do labor, do amor e da vida. Essa atividade foi realizada em 14 de setembro de 2017.

Maritza López Mc Bean, da Casa Comunitária Paulo Freire e Red Barrial Afrodescendiente, em pé no fundo, comenta sobre a experiência da cartografia em La Ceiba, Balcón Arimao.

El Ranchón, restaurante comunitário situado a poucos metros do Iroko, La Ceiba, foi escolhido para o lançamento do Boletim 3 Iroko: el espirito del sagrado. Identidad de la Comunidad de La Ceiba, Balcón Arimao, já citado. Precisamente, nesse restaurante participantes da oficina em 28 de setembro de 2015 reuniram-se em almoço de confraternização durante a oficina de Cartografia, mesmo local onde quase dois anos depois é realizado esse evento de lançamento.

Os presentes realizam leitura do Boletim 3.

Após as apresentações individuais, o grupo formado por 27 pessoas compartilhou da homenagem ao Daniel Brasil, que se empenhou junto com Bárbara Oliveira nos trabalhos da Cartografia Social em Cuba. A coordenadora da Casa Comunitaria Paulo Freire, a senhora Maritza López Mc Bean situou a iniciativa e recordou: “Barbarita y Daniel hablaron de la Cartografia Social a la comunidad, pues pensaban ellos que hacia falta un proceso participativo y las personas se acercaron al trabajo de la cartografia social con la comunidad muy involucrada. La Cartografia nos enseño mucho”. “Fué un paso, otro paso largo; una caminada, un paso importante” como destacou também Bárbara Oliveira.

Bárbara Oliveira comenta os desafios, dificuldades e estratégias do trabalho da nova cartografia social realizada em La Ceiba. No fundo está sentado Guillermo López Lezcano e do lado direito, sentado o professor Tomás Fernández Robaina y doutora Caridad Massón.

Caridad Massón, pesquisadora do Instituto Juan Marinello, coordenou a Jornada Cartografia Social Cuba-Brasil em 2017 e fez a homenagem a Daniel Brasil. Nas suas palavras, enfatizou a sua dedicação integral e grandes méritos profissionais e pessoais. Daniel Brasil compartiu com Bárbara Oliveira, sua companheira, vivencias e experiências de trabalho admiráveis. Na trajetória do pesquisador em Cuba, mas também no Brasil e Canadá, a professora Massón frisou o engajamento intelectual, a visão de mundo comprometida e atuante do jovem antropólogo brasileiro.

A doutora Caridad Massón no momento da homenagem a Daniel Brasil no El Ranchón, bairro La Ceiba.

A imagem da vida e do passamento do jovem antropólogo, falecido tragicamente em Brasília, em janeiro de 2017 foi expressa pela Ale Quiñones, indicando momentos vividos como a viagem no trem da vida e a morte significada no ato de “baixar desse trem”. A continuidade, a senhora Irene Esther Ruiz fez uso da palavra para ressaltar para além dos atributos profissionais e o posicionamento engajado na pesquisa de Daniel Brasil, a sua lição e prática de vida sempre disposto a compartilhar e construir amor e em especial o amor intenso que o uniu com Bárbara Oliveira. O retorno e construção do amor é a maior lição, concluiu Irene Esther Ruiz com profunda sensibilidade.

Na sequência foi entregue por Rosa Acevedo à Maritza López Mc Bean, coordenadora da Casa Comunitária Paulo Freire, os exemplares de vídeo maker de La Ceiba, com fotografias da oficina, diversos boletins, livros e obséquios de artesanato de miriti, obras de Valdeli Alves, artesão da cidade de Abaetetuba, em Belém, Pará, Brasil.

Ao destacar-se a experiência da nova cartografia em La Ceiba suscitou-se uma rodada de comentários que sinalizaram o esforço coletivo das pessoas que se aproximaram da Cartografia Social referido por Maritza López Mc Bean; da importância de cada um visualizar aspectos da coletividade e a confiança e esperança que é construída (Lurdes Galves Sanchez). Orestes Ramón García Simón frisou a unidade do bairro como objetivo muito importante e que se concretiza no aspecto religioso. Ele foi Maestro – professor de ensino fundamental – profissão à qual se dedicou por 20 anos. Hoje realiza obras em mármore e é autor da placa dedicada a Sindo Garay, músico e poeta de La Ceiba e com trajetória reconhecida em Cuba. Essa homenagem reforça a política de identidade cultural do bairro La Ceiba.

Os comentários sobre a experiência da cartografia social são destacados por Orestes Simón.

O maestro Orestes Ramón García Simón destacou que o Boletim La Ceiba, enquanto voz dos moradores de La Ceiba é fundamental à identidade social que se projeta dentro e fora do bairro, pois, “a partir desse boletim que estou ciente de minha identidade e de quem sou”.

Caridad Massón sublinhou o processo de conscientização e a necessidade de ter a mente aberta, pois, não é o Boletim uma invenção do estrangeiro e não há porque ser suspicaz.

Bárbara Oliveira, pesquisadora do PNCSA, apontou o processo final de construção do Boletim de La Ceiba significou retornar aos mapas e outros detalhes da construção do trabalho o que trouxe muitos ensinamentos. Para Bárbara Oliveira a chegada nesta etapa do lançamento do Boletim é muito importante, pois “O processo foi difícil, mais contou com a comunidade envolvida”.

Alfredo Sánchez Saavedra, do Colectivo Trance, referiu-se à Cartografia Social como tendo iniciado bem antes, no desejo de transformar a realidade, de preparação de todas as condições e de muita participação. Internamente, significou todo o tema de tramites e de logística. O tempo da oficina de setembro foi curto e houve necessidade de retomar os desenhos, de refazer alguns deles. O trabalho de transcrição também foi longo. No seu entendimento, a Cartografia Social para produzir o Boletim 3 representou “um processo de concertação. Praticamente, estruturou-se um pequeno laboratório e no final as mentes se incenderam”.

Tomas Fernández Robaina, pesquisador da Biblioteca Nacional de Cuba, identificou o Boletim como material educativo, fundamental nas escolas do município, no conhecimento dos professores, também da administração local. Insistiu nesse tipo de desdobramento da Cartografia Social e situou a sua própria experiência de realizar um registro dos Santeros (sacerdotes da tradição afro-cubana) que definiu como um trabalho arqueológico. “Trata-se de um conhecimento social e não é contestação”, concluiu o professor.

Na intervenção de Alfredo Wagner de Almeida, coordenador do PNCSA, insistiu brevemente nas dimensões econômica e política do mundo social; estas não se separam, assim como não se separam as lutas econômicas e políticas. As pessoas pensam-se com seus instrumentos culturais e está é uma saída para muitas interrogações sobre as sociedades no presente, afirmou.

A palavra final correspondeu ao professor Ricardo Ferrer colaborador da Casa Comunitária Paulo Freire que iniciou dizendo: “A Ceiba não é um vegetal”, o que ajuda a compreender outros significados como os destacados no Boletim, os quais sinalizam as narrativas do processo de produção da identidade social e sua relevância no presente do bairro.

No encerramento do evento foi lida por Beatriz García Machado a poesia de Alfredo Sánchez Saavedra, escrita em homenagem à senhora Pepa, sua avó e a Santera Mayor do bairro, falecida recentemente.

No evento apresentou-se a prestação de contas relativas aos trabalhos de cartografia social, indicando as contribuições locais.

Painel de debate no Instituto Cubano de Investigación Juan Marinello

O Seminário Internacional “Cartografia Social y Mirada de las Comunidades” teve lugar na sede do Instituto Juan Marinello, com o tema central “Identidades locais, pertenencia, território na Cartografia Social”, no dia 15 de setembro de 2017. Iniciou com apresentação dos participantes e homenagem ao pesquisador Daniel Brasil, sob coordenação do pesquisador Rodrigo Espina, do Instituto Juan Marinello.

O professor Alfredo Wagner sinalizou as diversas experiências de Cartografia Social e se deteve nas distinções de cada uma delas como necessidade interna. Destacou os mapeamentos participativos, colaborativos, interativos e frisou a instabilidade semântica face à volubilidade dos conceitos. O “novo” na experiência da nova Cartografia Social diferencia-se da Cartografia Social, das modalidades da disciplina geográfica e não está circunscrita, reduzida à ideia de um método, a maneira de proposição de manuais para a produção de cartografias desse gênero. Situou neste item as práticas desenvolvidas por empresas e outras entidades que não cumprem com Convenções Internacionais (em especial a Convenção 169 da OIT) e estabeleceu diferenças com os denominados “contra mapeamentos”. Após elaborar essas distinções enunciou que a “nova cartografia social” significa uma nova maneira de descrição, cujo conteúdo é definido pelas próprias pessoas, conteúdo igualmente diferenciado pelas próprias características inerentes aos agentes sociais. Trata-se de uma nova abordagem e nova maneira de fazer a descrição, de elaborações teóricas para compreender as identidades e, neste ponto, afirmou que identidade não é um papel social e sim um conjunto de referências construídas politicamente pelos agentes sociais e unidades sociais de referência.

Na segunda parte desta sessão os pesquisadores Bárbara Oliveira, Rosa Acevedo e Guillermo López Lezcano abordaram a experiência da nova cartografia social em Cuba, frisando o sentido dessa nova cartografia; inseriram contribuições a propósito das noções de território, pertencimento e identidade comunitária, assim como sobre formas de conduzir as reivindicações. Os pesquisadores que acompanharam os trabalhos de cartografia em La Marina e La Ceiba produziram observações de aproximação de ambas as experiências e ressaltaram as singularidades.

O debate suscitado orientou-se em diversas direções teóricas, dentre as quais destaca-se a produção da relativização, a cultura e suas potencialidades construtoras das sociedades, as questões não resolvidas de mestiçagem e cultura, sobre as posições dos pesquisadores que não se confunde com a de porta-voz. Destacou-se, ainda, reflexões sobre como realimentar os projetos da nova cartografia social, ora concluídos.

No auditório do Instituto Juan Marinello ocorreu o debate do tema do painel Identidades locais, como participação (foto) do professor da CUJAE, Rolando Zulueta.

A Revista Perfiles de la Cultura Cubana, Número 20, editada no presente ano, é composta por artigos dos pesquisadores que participaram do Seminário Internacional “Identidades y Movilizaciones, colectivas: miradas desde contextos americanos”, realizado em abril de 2015. Esse número da revista foi lançado ao público, no encerramento da Jornada no Instituto, em base digital.

Doutora Caridad Massón apresenta a Revista Perfiles em versão digital, no Instituto Juan Marinello.

As atividades culturais de encerramento, de expressiva qualidade, consistiram na declamação da poetisa e rapper Mágia López do poema Mi Belleza e da interpretação de músicas, como Gracias a la Vida, por Marta Sánchez.

Mágia López no momento que declamava a poesia.

Os pesquisadores do Instituto Juan Marinello e do PNCSA, em reunião de trabalho, realizada em 13 de setembro de 2017, reservaram tempo para debater os desdobramentos sobre a cooperação e estabeleceram como prioridades a formação em pesquisa no domínio da Nova Cartografia Social e identificaram o interesse em cursos de especialização, diplomado, intercambio de professores, inclusive na forma de pós-doutorado, assim como oficinas de cartografia social em outras comunidades que apresentaram a demanda.

Devido aos efeitos do furação Irma na sua passagem pela ilha de Cuba, a programação de lançamento do Boletim 2 sobre o bairro La Marina, situado em Matanzas, teve de ser suspensa e está reprogramada para dezembro de 2017.

Por: Rosa Acevedo e Bárbara Oliveira.

Fotografias: Bárbara Oliveira, Arydimar Gayoso, Helciane Araújo, Rosa Acevedo

 

 

 

 

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