Nova Cartografia Social Da Amazônia

Quilombolas do rio Mutuacá se reunem para o lançamento do Fascículo 14


O convite para o lançamento do Fascículo  14   Quilombolas do rio Mutuacá e seus afluentes, Curralinho,  Pará  foi acolhido entusiasticamente desde Três Bocas  até São José da Povoação,  marcado  para a manhã do dia 4 de março de 2015.  A Escola Municipal Fundamental Remanescentes de Quilombos  de “São José da Povoação”  teve  a presença de 59 estudantes, 11 professores  incluindo o diretor.  Do povoado Três Bocas e dos Projetos de Assentamento Extrativista também havia participantes, com isso marcando como eles afirmam serem mais quilombolas que assentados, o que é uma questão de identidade coletiva e não de política de regularização fundiária.  No espaço amplo do Centro Comunitário de São José da Povoação assinaram frequencia  97 pessoas, incluindo o Secretário de Educação e  o Supervisor  Escolar do município de Curralinho.

 

Os presentes acompanham a leitura comentada de páginas do Fascículo.

Os presentes acompanham a leitura comentada de páginas do Fascículo.

 

A senhora  Maria de Fátima de Jesus,  presidente da Associação de Remanescente de Quilombo do Rio Mutuacá e seus afluentes – ARQUIRMA  deu inicio ao lançamento com palavras de confraternização com profundo sentido religioso e afetivo.  Posteriormente, retomaram-se as informações das atividades realizadas  desde 2012 pelo “Projeto Mapeamento Social como instrumento de Gestão Territorial contra o desmatamento e a devastação:  processos de capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais”  que consistiram em cursos de GPS,  oficinas nos povoados de Três Bocas e São José da Povoação,  viagens de campo e participação em encontros (Macapá,  Curralinho e Belém) e Seminários (Belém e Manaus).

A apresentação do fascículo foi seguida da entrega de livros doados à Biblioteca da Escola, do  video maker  Quilombolas do rio Mutuacá  e um segundo video sobre a Convenção 169 da OIT para a presidente da ARQUIRMA.  Em seguida foi convidado  Morisalbert de Jesus Carvalho,  professor da Escola e Vice-Presidente da ARQUIRMA   para  a leitura do item  Reivindicações.   A propósito dessas questões se pronunciaram Maria de Fátima de Jesus Sousa,  Justa Pantoja de Oliveira,  Manoel Teles, Manoel Baia.   A prioridade para os quilombolas do rio Mutuacá  e seus alfuentes é o reconhecimento do  território que foi objeto  de retalhamento pela política ambiental  quando criou a Reserva Terra Grande Pracuúba  e da política de regularização fundiaria que decretou três Projetos de Assentamento Extrativista.

O fascículo elaborado pelos quilombolas foi objeto de uma cuidadosa análise  sob dois ângulos:  como  instrumento político  que no nível local e regional permite  apresentar  reivindicações às autoridades municipais e instituições como o ICMBio,  INCRA.  O segundo ângulo,  como instrumento de formação  e educação,  indissociável deste  primeiro, interpretação que ganhou destaque nas intervenções subsequentes. Eliana Teles teceu uma serie de considerações  sobre o que representa o fascículo para as práticas educativas.  O fascículo é a primeira informação consistente, atualizada e georreferenciada sobre a bacia do rio Mutuacá que não existe em mapas oficiais e  livros didáticos do Estado.  Nele  constam  informações  sobre  o ecossistema local. Ele contem elementos da formação histórica do rio Mutuacá,  muito pouco conhecidas, entre elas a relativa ao Cemitério da Cabanagem. As falas do fascículo representam  um código linguístico e ele possibilita  reflexões sobre a pesquisa  e trabalhos dentro de um projeto pedagógico,  que atende por dispositivos de legislação nacional, entre eles a lei 10.639.  O chamado foi feito aos professores para se debruçar sobre esse material com um espírito novo de investigação e de descobrir as possibilidades de leituras. Foi lembrado que na maioria das escolas  os professores vem de fora  e  desconhecem  as realidades empíricas  onde  se inserem sua prática educativa.

O professor Marcus Baratinha Oliveira fez uma longa e profunda exposição sobre a situação da educação no municipio,  com déficit notável  de salas de aula e  dívida  de três milhões de reais. Apontou os projetos para encarar  essa problemática educacional.  Na fala  ele manifestou  interesse no fascículo e apontou  que  a Escola de São José da Povoação se tornará uma experiência piloto de um novo Projeto Pedagógico, aproveitando o fascículo.   Fez a solicitação  de  exemplares para divulgar  em todas as escolas da rede de ensino municipal.  O outro ponto abordado  foi  a educação de ensino medio; está é responsabilidade do governo estadual  e hoje representa total inoperância.  Apenas existem oito Escolas de Ensino Medio fora da sede;  a maioria dos alunos deve cursar estudos longe dos seus povoados, com um custo elevado e grande insegurança para os pais de família e os próprios alunos.

 

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Justa Pantoja de Oliveira do Povoado Três Bocas fez uso da palavra para lembrar a “entrada” da Resex Terra Grande Pracuuba, os conflitos provocados em relação ao grupo politicamente organizado e mobilizado pela titulação coletiva.

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Ao lado de Justa Pantoja, estava a mesa decorada com motivos florestais feitos pela oradora.

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Mesa formada para debater o conteúdo do fascículo. De direita a esquerda: Leonildo Sousa Moraes, Salomão Pinheiro Assunção, Justa Pantoja de Oliveira, Maria de Fátima de Jesus Pantoja.

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Maria de Fátima de Jesus Pantoja.

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Marcos Baratinha Oliveira, Secretario de Educação de Portel

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Salomão Pinheiro Assunção, diretor da Escola Municipal Fundamental Quilombola de São José da Povoação

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Visão do público que participou no lançamento.

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Visão do público que participou no lançamento.

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Apresentação do grupo de dança de São José da Povoação

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A criança Henrique Souza Pinheiro e Elinaldo de Jesus Ribeiro que fotografaram o evento.

 

O evento foi encerrado com uma merenda  e ato cultural.  As pesquisadoras acompanharam a visita do Secretario de Educação no PAE Ilha Samanajós onde se localiza a Escola Sandoval Alves  e a Escola Porto Alegre,  situado no rio Canaticu, oportunidade de apresentar os quilombolas do rio Mutuacá  por  meio do fascículo e as atividades do Projeto.

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