Nova Cartografia Social Da Amazônia

Reforma nos “Centros de Ciências e Saberes” e cooperação técnica e acadêmica entre Brasil e Quênia


No período de 30 de setembro a 14 de outubro de 2015, pesquisadores do projeto “Centro de Ciências e Saberes” realizaram visitas aos municípios do Maranhão, quais sejam: Penalva, Alcântara e Imperatriz, região pré Amazônica, para apoiar a construção dos respectivos centros. Acrescentamos que o Projeto “Centro de Ciências e Saberes: experiência de criação de Museus Vivos na afirmação de saberes e fazeres representativos dos povos e comunidades tradicionais” é financiando pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (MCTI, CNPq, SECIS, MAST).

No dia 01 de setembro, estivemos em Penalva onde compramos os materiais de construção e demos início a reforma da “Associação dos Moradores e Adjacentes do Bairro Novo – Galpão” (fundado em maio de 1975), onde, será sediado o “Centro de Ciências e Saberes”, com previsão de término para o dia 20 de setembro deste ano. É importante destacar que a escolha do local onde será o centro, orçamento, seleção de material, mão de obra, negociação dos preços e fiscalização da reforma são realizados pela própria comunidade.

Figura 1: O empreiteiro José Pereira,  morador do município de Penalva, já deu início a reforma do “Centro de Ciências e Saberes” em Penalva. Foto: Rosseline, em 01.10.2015.

Figura 1: O empreiteiro José Pereira, morador do município de Penalva, já deu início a reforma do “Centro de Ciências e Saberes” em Penalva. Foto: Rosseline, em 01.10.2015.

Figura 2: Dona Nice nos explicou que este material, telhas de barro, sobrou de uma outra construção. Desta maneira, ela teve a ideia em aproveitá-lo para a reforma do Centro de Ciências e Saberes, reduzindo os custos e aproveitando o recurso para a compra de outros produtos. Foto: Rosseline, em 02.10.2015.

Figura 2: Dona Nice nos explicou que este material, telhas de barro, sobrou de uma outra construção. Desta maneira, ela teve a ideia em aproveitá-lo para a reforma do Centro de Ciências e Saberes, reduzindo os custos e aproveitando o recurso para a compra de outros produtos. Foto: Rosseline, em 02.10.2015.

Paralelo a essas atividades, o grupo de quatro quenianos, Paul Chepsoi, Desmond Tutu Owuoth, Kodieny Hillary Ogina e Oliver Onyango Ogembo, dando continuidade ao projeto de cooperação técnica e acadêmica entre Brasil e Quênia, estão trocando experiências nas comunidades quilombolas do Maranhão, Amazonas e Pará.

No Maranhão, estiveram com a liderança e ex-vereadora, Maria Nice Machado Aires, em Penalva, a liderança Ednaldo Padilha, “Cabeça” em Camaputiua (Cajari), e a liderança da Comunidade Brito (Alcântara), Seu Leonardo dos Anjos, onde compartilharam além de experiências, ciências e saberes durante em que conviveram entre as pessoas destas respectivas comunidades tradicionais. Esta estadia foi proporcionada gentilmente pela própria comunidade.

Figura 3: Marcos, Desmond, Paul, Oliver, Sheilla, Nice, Hillary e Cristina, no momento em que chegaram na casa de dona Nice, no município de Penalva. Foto: Rosseline, em 03.10.2015.

Figura 3: Marcos, Desmond, Paul, Oliver, Sheilla, Nice, Hillary e Cristina, no momento em que chegaram na casa de dona Nice, no município de Penalva. Foto: Rosseline, em 03.10.2015.

Ao visitar o local onde está ocorrendo a reforma do Centro de Ciências e Saberes, assim como a “Fábrica de sabão e sabonete e fábrica de óleo das quebradeiras de coco babaçu de Penalva – MA”, a liderança indígena do povo Endorois, Paul Chepsoi, apontou semelhanças e diferenças referentes a utilização do Babaçu, e que em kiswahili, língua oficial do Quênia, Tanzânia e Uganda, é conhecida como  Sosionte.Nos explicou que é bastante rara de ser encontrada na região do Quênia, e éutilizada de forma sagrada, durante rituais específicos de sua etnia. Segundo ele: “functions are the branches, are used to clean milk calabash and cultural cleansing”.

Figura 04: Paul e Dona Nice conversando sobre a palmeira de babaçu. Foto: Sheilla, em 03.10.2015.

Figura 04: Paul e Dona Nice conversando sobre a palmeira de babaçu. Foto: Sheilla, em 03.10.2015.

Neste período, os quenianos ouviram e observaram as dificuldades dos quilombolas em lidar com a criação de búfalos nos campos naturais que contaminam as águas e afastam os demais animais utilizados para alimentação, cercas elétricas de fazendeiros, construídas sem o menor critério de segurança com a comunidade que vive no entorno de Cajari, inclusive já com vítima fatal. Com a devastação do Babaçu, ameaças e assassinatos no município de Penalva, assim como as lutas cotidianas pelo direito a terra e diversas situações de violência na comunidade de Brito contra a base aérea da Aeronáutica instalada em Alcântara, que tem o intuito de desapropria-los. Desta maneira, fizeram comparações com a realidade de seu país e disseram passar por situações semelhantes aos quilombolas do Brasil.

Figura 05: Campos naturais em Cajari, próximos à comunidade Oiteiro. Foto: Sheilla, em 05.10.2015.

Figura 05: Campos naturais em Cajari, próximos à comunidade Oiteiro. Foto: Sheilla, em 05.10.2015.

Presenciaram também, os festejos de São Benedito com missa e “Tambor de crioula” em Penalva, brincaram de “Bumba meu Boi” em Camaputiua e aprenderam sobre o modo de fazer farinha, e rede com as artesãs da comunidade Brito. Em todos estes momentos, observaram a arquitetura das casas, os modos de comer e dormir, alguns nunca tinham visto ou dormido em uma rede, ou experimentado algumas espécies de peixe ou fruta da região.

Observaram também, manifestações econômicas, artísticas e culturais, as legislações referentes a Terra e seus usos e a utilização dos recursos naturais, tal como a “Lei do Babaçu Livre” (Lei 10.678 de maio de 2003), assim como a diversidade geográfica específica desta região, com bastante interesse, preocupação, admiração e empatia.

Figura 06: Festa do Bumba meu boi em Camaputiua. Foto: Sheilla Dourado, em 05.10.2015

Figura 06: Festa do Bumba meu boi em Camaputiua. Foto: Sheilla Dourado, em 05.10.2015

 

Rosseline da Silva Tavares
Em Imperatriz (MA), 11 de outubro de 2015.

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